Pedro Ludgero

Sinais de luta

Algo de estranho se passou aqui

Dizer que cada corpo foi vivido

por algo tão extenso como uma galáxia

é tudo menos uma hipérbole

Mas assim como nunca é o mordomo

quem em seis dias cria a perfeição de um crime

não se atribua ao que é costume

o que de muito estranho se passou aqui

Souvenirs do desejo

Gosto de sobreviver

Ou então isso é mania –

Devo ter qualquer coisa de barata

após a bomba da melancolia

Tenho de sair da cama

como quem tem de fumar –

Devo ter qualquer coisa de extremófilo

logo que o mundo acaba de acabar

Teimo na merda da vida

como se teima em canção –

Devo ter qualquer coisa de imp’rador

sucedendo à maior revolução

Mononucleose infeciosa

O vírus no nariz

a mão que calça bota

o bocado de céu

a fitinha do inferno –

Será tudo tirado pela tosse

Nada pelo beijo

A massa a sete cães

o trinta e um em moedas

a paciência de frade

o realismo de sapo –

Será nada tirado pelo beijo

Tudo pela tosse

O choque que não para

a guerra que não cessa

as três folhas de trevas

os cem anos de sono –

Pedro Ludgero.

Foi-lhe dada a luz no Porto a 20 de julho de 1972. Desde então, tem-se visto e desejado para pagar a conta de tão estranha forma de eletricidade. Como toda a gente. Tem formação sobretudo musical, tem cultura sobretudo cinéfila, mas sobretudo nunca abdicará da liberdade da escrita. Está no mundo para fazer perguntas e para colocar grãozinhos de areia nas mais variadas engrenagens.

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