Alice Neto de Sousa, poeta: dois poemas inéditos

Peixes mortos

Alice Neto de Sousa

No final do amor,

depois de queimados os bancos do jardim

de partidas as jarras de família 

depois de tirados os retratos da parede e

de ficar apenas aquela mancha mais clara,

amarela, por volta do que vivemos.

No final do amor,

depois de nos perdermos,

dos lugares que combinamos,

das passagens que marcamos.

Ali pelo final,

onde se divide tudo ao meio,

onde se desmembra o sentimento

onde nos tornamos menos,

estranhos, desconhecidos

cujos corpos se tocaram.

No final do amor,

quando um ainda ama e o outro não,

custa-me esta amarga sensação

de que tudo tenha sido em vão.

*

Nicotina

Alice Neto de Sousa

És o cigarro que preciso parar de fumar.

Alice Neto de Sousa (1993) é uma poeta, nascida em Portugal com raízes em Angola. Autora do poema “Março” escolhido para inaugurar as comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de abril, e do poema “Poeta”, que em 2022 conquistou as redes sociais e tem voado pelo mundo. Tem poemas no jornal “Mensagem de Lisboa”, foi presença assídua no programa televisivo “Bem-Vindos” na RTP África (2021 a 2023) e poeta
residente na Fundação Calouste Gulbenkian (2024). Em 2022, foi distinguida pela Bantumen, como uma das cem personalidades mais influentes da lusofonia. Inquieta por natureza nas palavras e nas escolhas, gosta de liberdade de pensar e de sentir.

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