Ernesto Moamba

QUE INDEPENDÊNCIA FALAMOS?

Minha mãe África

Meu corpo de encanto, minha mãe colonizada

Que independência falamos,

Se o teu continente construído de riqueza

Desde ouro, rubi, madeira e carvão

ainda continua nesta pátria aprisionada.

I


Que independência falamos,

Se as mãos que assinam os decretos dos inocentes

Nos Ministérios de Justiça do meu País, Moçambique
Ainda cumprem as ordens estrangeiras

Enquanto o chicote de dor, ainda canta nas costas da gente.

II

Que independência falamos,

Se minha África que se diz liberta das mãos do opressor

ainda continua presa no preconceito do colonizador

E muita das vezes sem voz,

Por medo das ditas ordens superiores.

III

Que independência falamos,

Se o meu povo negro “independente”

Ainda estremece dizer em público tudo o que pensa

Por medo de ser conotado e apontado como incitador de violência

Num continente jazia anos encarcerado e sem benevolência.

IV

Que independência falamos,

Se os crimes por encomenda nesta nação empobrecida

Falam mais alto que a própria segurança

Enquanto a verdade é enterrada por cima de ameaças.

V

Que independência falamos,
Se a juventude sem rumo vagueia pelas ruas,
Com diplomas nas mãos e fome nos olhos,
Sem trabalho, sem teto e sem esperança do amanhã?

VI


Que independência falamos,
Se a língua que falo não pertence as minhas raízes.

E meu futuro é sonhado em terra que não me pertence.

RESISTÊNCIA MILENAR

Na casa do meu pai

Desde a partida dos navios pela costa do índico

Minha amada Pátria não para de chorar                                                                                                                                                     

Meu Moçambique sonolenta não se cansa de lamentar.

A fartura da liberdade no interior está demais

No celeiro do quintal, o estomago do miserável anda deserto

Enquanto as nossas costas,

o estrangeiro disfarçado do nosso irmão de sangue

retira tudo sorrindo da nossa milenar cegueira.

Como se a mina secular não mais nos pertencesse

Como se a floresta de madeira em Norte não mais tivesse dono

Como se nada nos fizesse sentir açoitados

Como se tudo isso não fosse roubo.

SENTENÇA II

Ontem
eram marcas de violência
os toques do capataz
os gritos
ecoando entre os canaviais dos negros
sem nome
sem rosto
sem alívio

Hoje
restam apenas cicatrizes, as memórias e o silêncio   
no corpo calado da gente.

GRILHÕES

Mãe,
os estilhaços de chicotes
jamais deixarão marcas no corpo africano,
pois nossa carne negra,
hoje, é crua e bravia,

áspera como a fome que não se cala.


e não adoçará, jamais,
a língua dos negreiros

mesmo que a desejasse.

Ernesto Moamba, também conhecido como “Filho da África”, nasceu em 04 de agosto de 1994, em Moçambique, na Cidade de Maputo. A temática de sua escrita é marcada pela dor, o desespero e o sofrimento de sua Mãe África esquecida (segundo o autor), um verdadeiro cântico de lamento, uma ode à África. Seu trabalho literário encontra-se publicado em várias redes de comunicação social nacional e internacional. É membro fundador da AMCL (Academia Mundial de Cultura e Literatura), ocupando a Cadeira 21, com o Patrono Cruz e Souza. Finalista do Prêmio Segundo Varal Literário da Câmara Municipal de Divinopolitana de Letras, em Minas Gerais (BR), no Gênero Poesia Internacional, em 1º lugar. Lançou e publicou, pela Editora do Carmo (Brasília, DF), seu livro de estreia de poesia, “Liberta-te, Mãe África”. Recebeu o 3° Lugar no IV Concurso Internacional de Prosa – Prêmio Machado de Assis 2017, organizado pela Confraria Cultural Brasil-Portugal (CCBP). Lançou e publicou, pela Editora Folheando (Pará, BR), o livro infantojuvenil “O Coelho Fugitivo: Entre a Esperteza e o Medo”, e ainda a 2ª edição de “Liberta-te, Mãe África”. Recentemente, publicou, nos Estados Unidos, em Nova York, por meio da Editora Underline Publishing, o livro “Free Yourself, Mother África”, traduzido para o inglês e, na Colômbia, pela Editorial Torcaza, a tradução para o espanhol de “Libérate, Madre África” e “Liberati madre Africa” traduzido em italiano e publicado na Itália pela Edizioni We. Atualmente, conta com três Antologias Internacionais de que participa como curador/organizador: Antologia Poética Brasil-Moçambique (UESPI-NEPA, Marleide Lins); Antologia Internacional Moçambique em Versos (Literarte Brasil, Izabelle Valladares) e Sentimentos Lusófonos (Editora Porto Lenha, Ana Ferreira). É membro do Círculo dos Escritores Moçambicanos na Diáspora – Sede em Portugal.

  • Condecorado no Brasil pela OMDDH – Organização Mundial dos Defensores dos Direitos Humanos com os Títulos Honoríficos: Embaixador de Paz e Defensor dos Direitos Humanos, Destaque Internacional Cultural e Social e Título Educacional 2020.
  • Publica pela Editora Fundza, em Moçambique – cidade da Beira, o livro Infantojuvenil ” O Abecedário que Finge ser Mudo”

A convite da Associação Progresso participa do Workshop de produção de Livros Infantis (Projecto: Better Education for Teacher Training and Empowerment for Results, financiado pela cooperação Canadiana em parceria com o MINED- Ministério da Cultura e Desenvolvimento e Humano), onde lança a obra Infantil ” Jendai”.

  • É autor de recentes livros infantojuvenis: O Coelho e o Crocodilo às margens do rio e Abecedário que se Fingiu de Mudo, ambos publicados no Brasil-RJ, pela Ibis Libris Editora com o (selo Bisbilibisbalabás). Pela Editora Folheando publica em Belém, o seu segundo livro de poesia intitulado ” O Julgamento e a Sentença”.

É galardoado no Texas, U.S.A, com o Prêmio Global Poet 2022, World Poetry Anthem pela World Poetic Meetings.

  • Outorgado no Brasil com o Prêmio Baronesa de Excelência Cultural na categoria de Destaque Literário e Cultural Internacional.

Encerra o ano 2022 como Finalista do Prêmio Literário – concurso dos textos anônimos, 8ª edição FLAL Miscelânea, I° Lugar – categoria Poesia.

  • Participa como escritor convidado do II° Seminário da CPLP, Sobre Português Língua Segunda para Professores de Ensino Primário, organizado pelo Governo de Angola e MINEDH em Moçambique – Leitura e conversa com alunos sobre o Livro Infantil ” O Abecedário que fingia de mudo”.

É Presidente e Membro Fundador do Círculo Acadêmico de Letras e Artes de Moçambique (Sede – Cidade de Maputo).

Leave a comment